Morro do Pai Inácio, cartão-postal que inspira numerosos artistas

Ao longo do tempo, o grandioso atrativo da Chapada Diamantina vem se transformando em tema de filmes.
Literatura, pintura, cinema: diversas ramificações da arte se nutrem das imagens e das lendas Morro do Pai Inácio. Foto: Empório Chapada Diamantina

Ao longo do tempo, o grandioso atrativo da Chapada Diamantina vem se transformando em tema de filmes, poemas, pinturas e até de romances espíritas

Literatura, pintura, cinema: diversas ramificações da arte se nutrem das imagens e das lendas Morro do Pai Inácio. Foto: Empório Chapada Diamantina

Localizado no Km 231 da BR 242, o Morro do Pai Inácio atrai turistas de vários países pela impressionante vista panorâmica da Serra do Sincorá, da Serra da Bacia, do Morrão e do Morro do Camelo. O pôr do sol refletido nos paredões dessas rochas também chama a atenção dos visitantes. Em cima do Pai Inácio, ainda crescem cactos, líquens, musgos, bromélias e orquídeas – um ecossistema frágil e bonito. Além das várias espécies, o local está envolto por lendas sobre um escravo que dá nome ao atrativo. Juntos, natureza e imaginário popular geraram um fascínio tão grande que faz muita gente retratar o Pai Inácio e suas narrativas por meio da arte.

Pai Inácio na literatura

Já em 1920, o poeta José Moreira Pinto escreveu o poema intitulado “A Lenda do Morro”. O texto conta a história de velho Inácio, escravo bom e cuidadoso. Refugiado no sopé do morro, ele construiu uma cabana e passou a ajudar viajantes perdidos. Nessa produção, o romance com a filha de um fazendeiro e o voo de guarda-chuva não aparecem. Pai Inácio é descrito apenas como um guia auxiliador que vivia pacificamente com os seres da natureza.

Um século mais tarde, a escritora Mirandi Alves Pereira Oliveira também decidiu registrar a trajetória de Inácio em um livro que expande e detalha a conhecida versão romântica da lenda. Em “A Sinhazinha e o Escravo”, a autora mapeia, de modo ficcional, as origens familiares do protagonista, refaz o cotidiano dele na fazenda e mostra como ele se envolveu com a filha do barão. A obra revela ainda o que aconteceu depois do pulo do herói.

No mesmo ano, em 2022, Isadino José dos Santos decidiu perscrutar ainda mais a vida — ou melhor, as vidas — da figura lendária. Depois de anos apreciando o cartão-postal e suas narrativas, o autor teve uma insight espiritual para escrever o romance espírita “Morro do Pai Inácio”. A trama tem início quando o homem se chamava  Bartolomeu. Em seguida, o texto mostra as sucessivas encarnações do personagem até se tornar Inácio e, posteriormente, evoluir no plano superior.

Pai Inácio na pintura

Uma das primeiras representações imagéticas do personagem que nomeia o atrativo está no Posto e Pousada Pai Inácio e ilustra a versão mais romântica da história: a do negro que se joga do alto do morro usando um guarda-chuva. O quadro é conhecido em diversas partes do mundo e foi pintado, há mais de 50 anos, por Ranulfo Souza Lima, da cidade de Wagner.

O atrativo natural de Palmeiras também faz parte das criações do artista Dmitri de Igatu. Apaixonado pelas paisagens da região, ele conheceu o Pai Inácio em 1996. Em 2002, começou a pintá-lo e hoje já perdeu as contas de quantas telas suas ilustram o morro. Dmitri tem preferência por pintar a vista deslumbrante proporcionada pelo cume da atração.

Pai Inácio no cinema

Na década de 1980, as imagens de Pai Inácio finalmente ganharam movimento. A sétima arte se encarregou de contar a linda história de amor entre o escravo e a sinhazinha. Dirigido pelo cineasta baiano Pola Ribeiro, o filme “A Lenda do Pai Inácio” ganhou prêmios nacionais e internacionais e mostrou amplamente o meio ambiente da Chapada.

Vinte e sete anos depois, o ponto de cultura Grãos de Luz e Griô, de Lençóis, em parceria com o projeto Cinema no Interior, levou para as telas uma nova releitura fílmica do ente imaginário mais famoso da Chapada Diamantina. Em “A Lenda do Pai Inácio ou Kokumo”, o personagem redescobre suas origens negras e trilha o caminho em direção à sua verdadeira identidade.

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Saiba como o atrativo se tornou o principal ícone da Chapada Diamantina. Entenda sua geografia, a lenda que lhe dá nome e seu impacto no turismo regional É improvável visitar a Chapada Diamantina sem se deparar com o nome “Pai Inácio”. Ele está em placas, lojas, pousadas, cardápios e em conversas entre turistas. Mas, antes de ser transformado em marca, o Morro do Pai Inácio era apenas uma formação geológica imponente, visível a quilômetros de distância. Como, então, esse platô ganhou tamanha projeção? A resposta passa pela geografia, pela história e, sobretudo, pela força de uma narrativa que cruzou gerações. Entenda o relevo que molda o horizonte Com 1.120 metros de altitude e acesso facilitado pela BR-242, o Morro do Pai Inácio não é o ponto mais alto da Chapada — esse título pertence ao Pico do Barbado, com 2.033 metros. Ainda assim, o Pai Inácio se destaca por sua forma simétrica, pelo fácil acesso e pela vista panorâmica que oferece. Lá do alto, é possível observar outras formações icônicas, como o Morrão, os Três Irmãos e o Morro do Camelo. Esse conjunto de morros integra o Planalto da Chapada Diamantina, uma formação de arenitos e quartzitos originada há mais de um bilhão de anos. O tempo e a erosão foram responsáveis pelas linhas abruptas e verticais das escarpas que hoje emolduram o horizonte do Parque Nacional. Relembre a lenda que perpetuou o nome A história mais contada sobre o nome do morro envolve um escravizado chamado Inácio. Segundo a lenda, ele se apaixonou pela filha de um fazendeiro. Ao ser descoberto, fugiu para o topo do morro, de onde se lançou usando um guarda-chuva como paraquedas improvisado. Ele sobreviveu à queda e desapareceu, escapando da punição. A ausência de dados históricos sobre esse episódio reforça a hipótese de que se trata de uma construção popular, mas o poder simbólico da narrativa é incontestável. A lenda circulou por gerações de moradores e, mais tarde, foi absorvida por guias turísticos, materiais de divulgação e roteiros literários. Recentemente, ganhou uma releitura na obra A Sinhazinha e o Escravo, de Mirandi Alves Pereira Oliveira. O livro amplia a trama, adiciona personagens e apresenta o protagonista com mais profundidade, resgatando seu passado, seus dilemas e sua conexão com o território. Segundo a autora, a proposta é transformar um enredo oral e breve em um romance que dialogue com o presente. Veja como o morro virou cartão-postal A popularização do Morro do Pai Inácio como ponto turístico se intensificou a partir da década de 1990, com a consolidação do Parque Nacional da Chapada Diamantina como destino de ecoturismo. Sua localização estratégica, entre Lençóis, Palmeiras e Mucugê, facilita o acesso a partir de diferentes pontos da região. A trilha curta até o cume também contribui para sua popularidade: com cerca de 500 metros de extensão, ela pode ser percorrida em menos de 20 minutos. Do alto do morro, o pôr do sol é um espetáculo à parte. A luz atravessa o vale, projeta sombras nas escarpas e tinge de laranja o céu da Bahia. A combinação de beleza natural, acessibilidade e contexto narrativo transformou o local em ícone da Chapada. Conheça os impactos da fama no entorno Com o crescimento do turismo, o entorno do Morro do Pai Inácio passou a concentrar uma infraestrutura voltada ao visitante. Estacionamentos, guias credenciados, lojas de artesanato e restaurantes surgiram como resposta à demanda. Por outro lado, esse fluxo constante levanta discussões sobre conservação ambiental, regulamentação de acesso e limites de visitação. O desafio é equilibrar o valor simbólico e econômico do ponto turístico com a necessidade de preservar seu ecossistema. Embora o topo do morro ofereça uma vista ampla e segura, a trilha exige cuidados: o vento forte e a ausência de guarda-corpos tornam arriscada qualquer imprudência. Conecte a paisagem ao imaginário coletivo O Morro do Pai Inácio não é o único mirante da Chapada, mas talvez seja o mais fotografado. Sua imagem aparece em capas de revistas, vídeos promocionais e redes sociais. Além disso, tornou-se um marco de orientação territorial: quem visita o parque, inevitavelmente, cruza com ele. Mais do que altitude ou formação geológica, o que confere ao Pai Inácio o status de símbolo é a fusão entre geografia e mito. O morro não é apenas um ponto de observação, mas uma plataforma de histórias — tanto reais quanto inventadas. Ele sintetiza a identidade visual, histórica e afetiva de toda a Chapada Diamantina.

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